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sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Comentário de I Pedro 1:1-2 [Prefácio e saudação]

Por Rouver Júnior


INTRODUÇÃO


Numerosas foram as dificuldades quanto ao exato entendimento do trecho a ser comentado, por isso buscarei ater-me em alto grau ao texto, sem fazer associações incertas com outros trechos bíblicos; toda a ligação feita só se dará se for segura e firme. Essas coisas para evitar erros interpretativos e conclusões precipitadas, prejudicadores da boa exposição.

Desejo que o Espírito Santo me guie em todas as palavras.


TEXTO DE BASE


"1 PEDRO, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia;
2 Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: graça, e paz vos seja multiplicada." [1Pe 1:1-2] ARC


COMENTÁRIO

Pedro escreve, na condição de um enviado de Deus para testemunho da morte e ressurreição de Cristo, a cristãos que, reunidos em certo lugar, e movidos por uma força contrária às suas vontades, foram espalhados por cinco províncias romanas: Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia. Eles são chamados de "estrangeiros", o que subentenderia nacionalidade diferente da de Pedro. Contudo, não é possível afirmar, por ora, para mim, pelo menos, categoricamente que assim é, porque a expressão não deixa claro quem é a referência, isto é, são "estrangeiros" porque são de nacionalidades diferentes da de Pedro ou porque são estrangeiros, agora, nas províncias em que estão? Ou mais: são "estrangeiros" porque a sua pátria não é o mundo?

É certo que nós, cristãos, não somos deste mundo; realmente ele não é a nossa pátria, mas para mim não está indubitável o significado deste "estrangeiros".

Com certeza são cristãos, sejam judeus convertidos ou gentios rendidos a Cristo, ou ainda ambos, porque foram "Eleitos" por Deus Pai e agora são povo de Deus. [1:2; 2:10]

São cristãos que saíram do lugar onde estavam reunidos por efeito de uma força contrária. No texto isolado, porém, não se percebe de qual força se trata, mas é bem possível que tenha sido as perseguições relatadas no livro de Atos dos Apóstolos, tendo em vista o tema central da Epístola: sofrimento por perseguição seguido de vitória. Se assim for, o sentido de "peregrinos e forasteiros" [2:11] é altamente reforçado, pois saíram de Israel fugidos de perseguições para caírem nos braços de ainda outras perseguições nas províncias romanas. Nero perseguia avidamente os cristãos de sua época. [vide postagem anterior]

A mensagem passada a nós por este primeiro versículo é: não somos deste mundo, não somos compreendidos, somos perseguidos, estrangeiros vivendo de perseguição em perseguição, sofrendo por amor a Cristo. [Mt 5:10-12]

Esses sentidos são completamente atuais em todo o mundo, mas em primeiro plano nos países onde há cristãos proibidos de proclamarem sua fé publicamente, como no Chade e na Coréia do Norte. A ordem nesta última nação é "Adorem aos dois reis", configurando o culto a personalidade; a lei é a sharia, havendo pena de morte para quem se proclama cristão. Hoje, em todo o mundo, os cristãos são fortemente perseguidos e outros dão as suas vidas por causa do zelo do nome de Cristo. Se no Brasil somos menos perseguidos, graças a Deus, mas, mesmo aqui, ainda sofremos perseguição.

Apesar das provações, não devemos nos entristecer, como Pedro mostra aos destinatários da Carta ao trazer uma palavra de extremo consolo e segurança: "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai".

Ora, as nossas escolhas são passíveis de erro e retrocesso, mas Deus escolhe sem ameaça de falha alguma e nunca volta atrás, porque os seus pensamentos e decisões são perfeitos. Assim, Deus, sabendo anteriormente de todas as coisas, elegeu com segurança a cada um cristão para o qual o apóstolo escreve. Não importam as perseguições, estamos guardados no poder de Deus para recebermos o cumprimento de nossa esperança: a salvação. [1:5]

Outro tanto, quem nos santifica é o Espírito Santo, para que possamos obedecer a Deus e receber a total purificação pelo sangue de Jesus Cristo sobre nós. É interessante notar a nítida presença da Trindade no segundo versículo: "Eleitos [...] Deus Pai, em [...] Espírito, [...] aspersão [...] Jesus Cristo".

Seguindo uma seqüência: Deus Pai, desde a eternidade, elege, o Espírito Santo, no homem já criado, opera a santificação, para a obediência a Deus e a purificação pela aspersão do sangue de Jesus Cristo. Desta maneira, somente o ato da eleição é atemporal, porque, embora Deus já soubesse da execução dos atos da santificação e da purificação, eles só foram executados dentro do tempo, visto o fato da impossibilidade da purificação e da santificação de um homem em carne ainda incriado. A eleição, por sua vez, houve desde sempre. Mas é claro que apenas exponho estes sentidos; a santificação e a purificação não são menos preciosas do que a eleição.

A saudação, por fim, se harmoniza plenamente com as palavras deste prefácio. Somente através da "graça" operante de Deus em nossa vida podemos obedecer a Deus e ter a paz com Ele. E é pela "graça" de Deus que recebemos a revelação e a santificação do Espírito Santo e podemos ser aspergidos para a purificação; e em tempos de ardentes provas, só podemos seguir em paz e nos alegrarmos pela "graça" de Deus. Deus, então, nos elegeu, não pelos nossos méritos, porque não temos nenhum, mas pela sua maravilhosa e abundante "graça".

O prefácio é perfeito: introduz, muito concisamente, os assuntos da Carta: perseguição, sofrimento, eleição, presciência, obediência, graça, vitória, Cristo, paz, santificação, purificação, novo nascimento ("nos gerou de novo"), etc.

PS: tenho a consciência de que este pequeno prefácio [em quantidade de letras e espaços] de 1Pe pode ser muito mais explorado, como na questão do apostolado e da vida e nome de Pedro, por exemplo.

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