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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Comentário de I Pedro 1:6

Por Rouver Júnior

INTRODUÇÃO

A salvação dos eleitos está prestes para se revelar e o fim dos tempos está próximo. E nisso os escolhidos de Deus se alegram com intensa alegria, não deixando abater-se pelas dificuldades necessárias sobrevindas, porque é importante que sejam tentados para que a sua fé se ache verdadeiramente aperfeiçoada na volta de Cristo nos ares.


TEXTO DE BASE

"Em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário, que estejais por um pouco contristados com várias tentações," [1Pe 1:6]


COMENTÁRIO

Os cristãos aos quais Pedro escreve a sua primeira epístola universal eram defrontados com graves ofensas e passavam por provações tão árduas a parecer que atravessavam o fogo. E de fato, em 64 d.C., um ano após a escrita da Carta, o imperador romano Nero pôs fogo em Roma e nos cristão.

Tendo Roma incendiada, Nero culpa os cristãos de terem posto fogo na cidade mais importante de todo o vasto Império Romano. Segue-se uma ávida perseguição aos servos do Senhor, com torturas e cremações de cristãos ainda vivos.

As provações pelas quais passavam os cristãos residentes no Império eram horríveis, e os destinatários da presente epístola estavam espalhados contra a sua vontade por cinco províncias romanas. Mas toda a perseguição não era capaz de roubar a alegria destes crentes de terem a salvação. Ainda que tivessem que passar pelo fogo, passariam alegres porque estavam firmados na Rocha Eterna, que é Cristo. Eles se alegravam, pois, ainda que sofressem por instantes graves aflições, o fim de toda a angústia estava próximo. Todo o sofrimento é seguido de vitória para os eleitos de Deus.

Cristo não voltou enquanto viviam, mas, agora, dormindo descansam, esperando o dia da revelação de Jesus Cristo.

"Em que vós grandemente vos alegrais" - Os eleitos de Deus, santificados pelo Espírito Santo, obedientes, aspergidos pelo sangue de Cristo, gerados de novo segundo a grande misericórdia de Deus, "para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo, dentre os mortos", herdeiros fiéis guardados no poder de Deus para a salvação, tendo a salvação guardada por Deus nos céus, em meio às provações, se alegravam com grande alegria no Senhor.

"ainda que agora importa" - Esse trecho nos mostra a importância de sermos por ora provados e a real possibilidade de nos alegrarmos indiferentemente das contrições sobre nós advindas por ocasião de "várias tentações". O "agora importa" mostra a importância de sermos tentados e o "ainda" mostra a indiferença dos destinatários concernente às contrições, porque, "ainda" que seja importante serem tentados, eles se alegram grandemente.

"sendo necessário" - Além de ser importante estarmos "contristados com várias tentações", é necessário que isso ocorra, o que nos mostra que as tentações são proveitosas e não maléficas para os eleitos. Com as tentações temos nossa fé aperfeiçoada e ganhamos a oportunidade de demonstrar a Deus o nosso amor por Ele, não somente através de palavras, mas com atitudes. Sendo tentados e resistindo às tentações, vamos muito além das palavras e declaramos com nossas atitudes o nosso inapagável amor por Aquele que nos criou.

Nisso vemos claramente a afirmação bíblica de que "todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto." [Rm 8:28]

Aquilo que para os outros é destrutivo, para o cristão fiel é construtivo. Tudo contribui para o seu bem e o diabo foge dos que o resistem.

"que estejais por um pouco contristados com várias tentações" - Além das coisas já ditas, quero salientar dois termos: "pouco" e "várias". Os dois estão em contraste. Um denota quantidade pequena e o outro quantidade grande. Os eleitos passam por um grande número de tentações, mas Cristo diz "tende bom ânimo". Cristo venceu o mundo e, guiados e fortalecidos por Ele, podemos também vencer o mundo.

Os servos de Deus passam por várias tentações em um espaço curto de tempo. Pode-se compreender algo interessante daí. As tentações são numerosas, mas ocorrem "por um pouco", isto é, por pouco tempo. A dificuldade vem ardendo como fogo, mas é fogo passageiro que acaba em um instante, vindo depois a grande vitória. Os cristãos que foram queimados podiam pensar assim: "Vale mais suportar as chamas desse mundo por um pouco de tempo e depois subir aos céus que viver sem esse sofrimento e, tendo descido ao inferno, queimar em chamas muito mais aquecidas que essas por toda a eternidade."

Assim, conclui-se:
  1. Os eleitos alegram-se grandemente na salvação que está próxima;
  2. É importante e necessário que os eleitos sejam tentados;
  3. As tentações vêm em grande número;
  4. As tentações causam contrição;
  5. Mas as várias tentações duram pouco tempo.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Comentário de I Pedro 1:5

Por Rouver Júnior

INTRODUÇÃO


Os cristãos verdadeiros, eleitos por Deus Pai desde a eternidade segundo o seu conhecimento anterior de todas as coisas, santificados pelo Espírito Santo, obedientes a Deus e aspergidos pelo sangue de Jesus, deixaram no passado a velha criatura e foram gerados novamente conforme ao sentimento de dor nascido no coração de Deus pela visão da miséria do pecador. Gerados para uma viva esperança, herança imutável, guardada por Deus nos céus para todos os que aceitam a Jesus Cristo e obedecem os seus mandamentos.


TEXTO DE BASE

"Que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo,"


COMENTÁRIO

A herança de Deus para o eleito está protegida de tudo por Deus nos céus e o eleito está guardado na virtude de Deus para receber essa herança, a salvação, de modo a não haver nada que impeça o escolhido de Deus de recebê-la.

Deus guarda a herança e Deus guarda o herdeiro [1:4-5].

O agente causador da separação entre o homem e Deus é o pecado; contudo, a Bíblia nos afirma em 1Jo 5:18 que o nascido de Deus não pratica continuamente o pecado, antes conserva-se com as características e a natureza recebidas do Pai em quem foi gerado.

Paulo, por sua vez, transmite-nos a segurança de que nada nos separará do amor de Deus, que está em Cristo Jesus [Rm 8:31-39].

O pecado separa o homem de Deus, mas o homem eleito não permanece no pecado. O eleito ainda que caia, pecando, tem quem o levante. O homem é quem cai, Deus é quem o levanta. É notório. O verdadeiro cristão tem um Advogado para com o Pai, que levou sobre si todos os nossos crimes, estando hoje perante o Pai, intercedendo e se compadecendo de nossas fraquezas, porque, como nós, em tudo foi tentado, mas sem erro algum. Tal Advogado nos garante a absolvição, pois, uma vez lavados em seu sangue, somos feitos justos, não havendo mais nenhuma condenação sobre nós que andamos espiritualmente [1Jo 2:1-2; Rm 8:1].

Em meio a todo o sofrimento, os eleitos podem permanecer seguros do bom final das coisas. Deus guarda a nossa salvação e Deus nos guarda para a salvação.

É importante ver que estamos "guardados na virtude de Deus para a salvação", mas somos guardados "mediante a fé". Quem não tem fé não está guardado, quem não crê em Cristo não pode ter a esperança da salvação. Sem fé é impossível agradar a Deus. A sociedade ocidental, em grande escala, aboliu a sua crença real em Deus e hoje vive um tempo de vazio, de desespero e desesperança.

Convém notar também que a fé não é uma simples crença sem sentido. Ela é "firme fundamento" e "prova", como nos informa Aos Hebreus 11:1. Acreditar em algo simplesmente por acreditar, no fim, é inútil. A religiosidade por si mesma é morta, como era a dos fariseus censurados por Cristo. É preciso crer em Deus e conhecê-lo. Neste ponto acontece o grande erro do relativismo religioso, pois prega a importância de se crer indistintamente da religião, da doutrina, das proposições anunciadas como verdade, porque não há uma verdade, mas várias.

A partir daí pode-se crer em qualquer coisa, mesmo se as doutrinas forem opostas, sendo importante apenas a fé; é a fé na fé. Ser adepto de uma religião que prega o ódio é o mesmo que aderir a uma defensora do amor. Esse tipo de fé é frágil e irracional, sem firmeza alguma. Mas a fé em Jesus Cristo é muito diferente.

"ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem." [Hb 11:1]

A fé cristã é a certeza do cumprimento da esperança. Esperamos, não duvidosos, mas em certeza e segurança. Sabemos que a nossa salvação vai cumprir-se. Não agora plenamente, mas na revelação de Jesus Cristo, quando Ele vier nas nuvens para buscar a sua igreja.

A fé também é prova do invisível; não somente das coisas imperceptíveis aos olhos humanos, mas também das visíveis ainda não manifestas a nós.

Portanto, temos a firme e plena convicção do fato de Deus nos guardar para a salvação. Dessa forma, o que pode impedir alguém de alegrar-se em Cristo? Não há perseguição maior do que a nossa esperança. Lutando agora, sabemos que a vitória virá, porque o Senhor é conosco.

Algo a ser visto é que o tempo de nossa vitória não só é certo, mas está próximo. A nossa salvação já está "prestes para se revelar no último tempo", por onde vemos também que o fim está perto.

A palavra de Deus nos afirma que o fim vem sobre os quatro cantos da terra, que na volta de Cristo será como nos dias de Noé. A salvação está, agora, prestes para saltar aos olhos de todos os homens como um relâmpago atravessando o céu, desde o oriente até o ocidente, num abrir e fechar de olhos. Assim, conclui-se:

  1. Estamos guardados por Deus para a salvação;
  2. Somos guardados mediante a fé;
  3. A salvação se revelará no último tempo;
  4. A salvação já está perto de se revelar;
  5. Logo, o último tempo está próximo.
Cristo diz:
"E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra.
Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro.
Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à árvore da vida, e possam entrar na cidade pelas portas." [Ap 22:12-14]

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Comentário de I Pedro 1:4 [2ª parte]

Por Rouver Júnior

INTRODUÇÃO

A postagem anterior teve como referência o versículo 4 de I Pedro, havendo se detido, contudo, apenas na questão da herança que nos foi dada. No presente artigo, dar-se-á continuação ao comentário, analisando as outras partes do versículo.


TEXTO DE BASE

"Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós," [1Pe 1:4]


COMENTÁRIO

Recebemos de Deus a "viva esperança", que é a "herança" de Deus para nós, através da "ressurreição de Jesus Cristo, dentre os mortos". Esta maravilhosa herança é "incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar".

Incorruptível - A corrupção é o ato de tornar algo pior através de um agente destruidor.

Algo que é perfeito e bom, se se corrompe, se torna imperfeito e mau. A ferrugem corrompe o ferro. Uma coisa corrompida é aquela que sofreu influência degenerativa de alguém ou algo, cujo resultado foi fazê-la pior. Mas a nossa herança é incorruptível; é perfeita e continua perfeita; é boa e continua boa; não sofre influência degenerativa; ela não piora em hipótese alguma.

O dinheiro guardado por muito tempo pode corromper-se fisicamente e perdendo seu valor, mas nossa salvação é sempre a mesma, extremamente valorosa, desde a eternidade preparada para nós, porque o Cordeiro de Deus já estava predestinado para a cruz. [vide 1Pe 1:18-21]

Ora, Deus sabe de tudo e elegeu-nos para a salvação desde antes da fundação do mundo. Deus já sabia que o ser humano iria pecar e também que para remir o pecado era necessário derramamento de sangue inocente. Por conseqüência, Deus já sabia, desde sempre, da necessidade de Cristo vir ao mundo e derramar Seu sangue. Logo, Cristo já estava determinado para vir à terra, morrer por nós e ressuscitar, porque sem isso não poderíamos receber a salvação e, portanto, não seríamos eleitos. Mas Deus nos elegeu, pela sua "grande misericórdia".

De forma mais simples, Deus sempre soube de tudo, inclusive que Cristo morreria na cruz, porque, se Deus não soubesse disso, não saberia de tudo. Mas Deus sabe de tudo.

Incontaminável - Contaminar é a ação de fazer algo sujo e maléfico misturar-se a algo puro e benigno, tornando este inútil.

Uma pessoa contaminada por uma doença, anteriormente à contaminação, estava bem quanto ao estado tocado pela enfermidade, mas depois ficou mal. A contaminação é uma mistura daquilo que é mau àquilo que é bom, sendo este contaminado por aquele e, assim, deixando de ser bom. O que é mau não pode ser contaminado, pois já tem em si a própria contaminação, mas o homem mau pode ser transformado por Deus em um homem bom, pelo ato de lavá-lo no sangue de Cristo, pela graça, pela fé.

A nossa herança é incontaminável. Não há nada mau com poder para misturar-se a ela a fim de torná-la inútil. Ela não se mistura ao mal.

"Que se não pode murchar" - Murchar é perder as características vigorosas do perfeito estado, passando a tê-las em péssima condição.

Aquilo que murcha perde a vida. Uma bela flor que murcha deixa de ser bela e perde o viço de antes, e isso até a morte. Uma planta, mesmo sem beleza, quando murchar perde as vigorosas características suas, tornando-se frágil e degenerada. O próprio corpo humano murcha com o passar do tempo, perdendo as suas vigorosas características: boa audição, visão, agilidade, força, etc.

Murchar é morrer, é perder as características de vida. Contudo, a nossa herança não pode murchar. Ela não perde suas maravilhosas características com o passar do tempo. Desde o tempo de 2000 anos atrás nossa herança já estava estabelecida; desde 4000 anos, já estava estabelecida; desde antes da criação, na eternidade, quando não havia nem tempo nem espaço, nossa salvação, nossa herança já estava estabelecida. Ela não se corrompe, nem se contamina, nem murcha. Em resumo, ela não muda, porque está "guardada nos céus" para todo o eleito de Deus para a salvação.

A nossa herança está guardada nos céus para nós e o Soberano Senhor dos céus é Deus, que não pode ser enganado. Ele é quem permite a entrada e a saída do céu. Entraremos no céu por sua vontade, os anjos, como Gabriel, saem do céu quando ordenados, segundo a vontade de Deus, e retornam segundo à vontade do Senhor, etc. E Deus sabe de tudo e tem todo o poder. Ninguém é mais poderoso que Deus, nem ao menos comparável. Ninguém se compara a Deus.

Ainda que o próprio satanás entrou perante Deus, como relata o Livro de , o Senhor dos céus e da terra, Soberano sobre toda a criação, não pode ser enganado. Assim, sendo Deus quem guarda nossa herança, ninguém pode roubá-la, ninguém a torna corrompida, contaminada ou murcha.

Aqui cabe um raciocínio simples. Deus guarda a salvação dos eleitos imutável. Assim, pode o eleito perder a salvação, não recebendo-a? É claro que a única saída é recebê-la, porque Deus não guardaria a salvação de alguém que não fosse ser salvo, seria guardar inutilmente, o que não tem sentido nem condiz com o caráter de Deus. Aliás a salvação do que não se salva não pode existir, porque, se ele vai para o inferno, não houve salvação para ele.

Portanto, se Deus guarda a herança dos eleitos, então, inevitavelmente, de um jeito ou de outro, eles vão recebê-la. O que não quer dizer que o eleito não perseverará no caminho da verdade até o fim. Deus lhe dará força.

Nós, os eleitos, podemos dizer com toda a convicção que nada nos separará do amor de Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor. [vide Rm 8:31-39] Os eleitos serão levados, pela graça de Deus, pela santificação do Espírito Santo, a sempre obedecer a Deus e, ainda que haja algum deslize, tudo terminará bem, porque é Deus quem guarda a herança, que inevitavelmente receberemos.

Vale, por fim, lembrar de dois trechos da Epístola por ora comentada: os versículos 2 e 3 . Naquele, é dito que os destinatários da Carta são "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo:" e neste, dentre outras coisas, que fomos gerados segundo a "grande misericórdia" de Deus Pai. Estes significados demonstram que Deus nos elegeu para obedecê-Lo e para sermos purificados no sangue de Jesus, sendo santificados pelo Espírito Santo, e, ainda, não foi segundo as nossas obras que Deus nos escolheu, mas "segundo a sua grande misericórdia".

sábado, 22 de novembro de 2008

Comentário de I Pedro 1:4

Por Rouver Júnior

INTRODUÇÃO

Este comentário objetiva a continuação da exposição bíblica da Epístola de I Pedro.


TEXTO DE BASE

"Para uma herança incorruptível, incontaminável, e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós," [1Pe 1:4]


COMENTÁRIO

No terceiro versículo do capítulo primeiro [1:3], Pedro bendiz a Deus Pai por ter gerado tanto a Pedro quanto aos destinatários da Carta, conforme o grande sentimento de dor nascido no coração de Deus por ver a miserável situação na qual se encontravam.

No quarto versículo [1:4], o autor inspirado por Deus continua o período textual mostrando uma visão diferente da "viva esperança" mencionada no versículo anterior. Neste, a "viva esperança" é apresentada como uma "herança". E o que isso significa?

Para haver herança é necessária a existência de um dono da herança, isto é, um possuidor de bens, e é igualmente preciso que haja alguém para receber tais bens, ou seja, os herdeiros. O recebimento da herança, por sua vez, implica inevitavelmente a morte do dono, porque somente assim os herdeiros podem tomar posse da herança.

A herança recebida remete à morte.

Nós, os servos de Deus, somos herdeiros. Podemos afirmar isso tão somente se olharmos para o fato de que a "herança" está "guardada nos céus". Se a "herança" está guardada nos céus para nós, logo, somos herdeiros. Mas, se herança remete à morte do dono, quem morreu para que fôssemos feitos herdeiros e o que nos deixou?

Era pois necessário que Aquele que ressuscitou de entre os mortos estivesse anteriormente contado entre os mortos. Para que ressuscitasse era preciso morrer. Não há ressurreição sem a morte anterior, mas a ressurreição é o triunfo sobre a morte. Ele ressuscitou.

Jesus Cristo, na santa ceia, disse algo de extrema importância quanto ao assunto Herança. O dono da herança, pressentindo a morte, escreve o seu testamento estabelecendo os herdeiros que, em casos naturais, são primordialmente os filhos e demais parentes. Se somos filhos de Deus somos herdeiros. Mas o que Cristo disse na santa ceia? Lucas nos relata:

"E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente tomou o cálix, depois da ceia, dizendo: Este cálix é o Novo Testamento do meu sangue que é derramado por vós." [Lc 22:19,20]

Cristo, já sabendo de sua morte, de como aconteceria, e já a tendo comunicado aos discípulos, reúne-se com os doze para celebrar a santa ceia. Este acontecimento é semelhante ao ato de o dono da herança comunicar o que será dado dela para cada um, porque Cristo Jesus partiu o pão, isto é, a sua carne, e deu uma parte para cada um. Tal ato se assemelha também ao anúncio da maneira pela qual o Testamento seria escrito, porque Cristo disse que o cálix, isto é, seu sangue, é o Novo Testamento. [vide Mc 14:24]

Sem derramamento de sangue não há remissão de pecados.

Em analogia, Cristo não usou papel e tinta para redigir o seu Testamento, mas o escreveu em sua própria carne e com o seu próprio sangue. Cada ferida, cada chaga no corpo de Cristo era uma inscrição da herança que nos foi dada; cada linha de sangue escorrida pelo corpo de Cristo era como o traçado de duas palavras para nós: Perdão e Graça.

O Seu corpo foi o livro, o Seu sangue a tinta. O pão é o corpo de Cristo, que foi distribuído aos discípulos. Cada qual com a página da herança que lhe cabia; página escrita com sangue.

Portanto, pela morte de Jesus Cristo, pelo Seu sangue, pela Sua carne rasgada, fomos feitos herdeiros de Deus, tendo por herança a "viva esperança", que é a nossa salvação, cuja plenitude receberemos um dia, quando virmos a Deus face à face. Mas a "herança" já nos foi dada em parte, pois fomos gerados de novo pela ressurreição de Cristo.

Algo importante de ser notado é a ressurreição de Cristo Jesus. Se alguém escreve seu testamento e a sua morte é declarada, mesmo precipitadamente, a herança já pode e é repartida a cada herdeiro. Constatando-se, porém, que o indivíduo não morreu de fato, mas está vivo, ele pode reclamar novamente os seus bens, tomando dos herdeiros a herança, porquanto não morreu. Mas Cristo morreu verdadeiramente, o que nos outorga a herança, entretanto, ressuscitou, sendo então cabível que nos tomasse a herança. Mas Jesus Cristo não fez isso. Ele se fez co-herdeiro conosco, mantendo a nossa parte na herança e herdando do Pai todas as coisas, de modo que Cristo é tudo em todos: o sumo sacerdote e o sacrifício, o dono da herança e o herdeiro de todas as coisas, o réu inocente, tido como culpado, o advogado que intercede a Deus por nós e o Justo Juiz que julgará a humanidade, o Soberano Senhor e o Servo Fiel, etc. Por Cristo Jesus recebemos a herança que há de completar-se na eternidade.

continua

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Comentário de I Pedro 1:3 [parte 2]

Por Rouver Júnior

COMENTÁRIO

"nos gerou de novo para uma viva esperança" - O Senhor Deus, Pai de Jesus Cristo, pela sua grande misericórdia, nos fez novas criaturas com o objetivo de nos dar uma "viva esperança". Um homem recebe a nova geração e esta maravilhosa esperança única e exclusivamente pela ressurreição de Jesus Cristo. Se o homem não crê na ressurreição de Cristo, que para muitos é loucura, não pode ser gerado de novo nem alcança a incorruptível esperança.

Mas, afinal, o que é a "viva esperança"?

Em primeiro lugar, esperança é o sentimento que nos faz aguardar com paciência algo por ora invisível, não tocável no momento; é preciso ter fé. De fato a esperança se liga muito estreitamente com a fé: "ORA, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que se não vêem." [Hb 11:1]

Sem fé não há esperança.

Esperar, por sua vez, é manter-se em certo estado de confiança a fim de receber alguma coisa. Nós, os servos de Deus, esperamos confiadamente o cumprimento da promessa feita por Deus a nós: esperamos a plenitude da salvação, quando deixaremos este mundo de dor e aflições para entrarmos nos céus onde Deus está assentado em um alto e sublime trono. Lá não haverá nem mais dor, nem aflição, nem perseguição, nem contrição de sofrimento algum; mas exultaremos eternamente em louvor a Deus.

Outro tanto, a "esperança" é "viva"; não está debaixo do pecado, não é mentirosa, não está debaixo da morte, nem da ira de Deus; é "viva" porque é dinâmica e influencia toda a vida do cristão já aqui na terra. Tal esperança é extremamente consoladora, porque não importa o quanto sofremos e sofreremos, um dia tudo isso vai acabar e virá, brevemente, a vitória, o repouso, o descanso.

Essa esperança nos faz ter grande alegria mesmo nos momentos mais difíceis de nossas vidas. O que nos está guardado não se corrompe nem muda: o próprio Deus foi quem nos preparou, desde antes da fundação dos séculos. Que consolo para todos os que, fiéis a Deus, sofrem perseguições ardentes por causa do nome de Cristo! Somos bem-aventurados. [Mt 5:11-12]

O ímpio pode perguntar-se: "Como este povo sorri, pula, grita, salta de alegria, diz que tudo vai bem, sendo perseguido e passando por tantas dificuldades assim?" A resposta se dá: temos a "viva esperança" concedida por Cristo, mediante o seu tremendo sacrifício na cruz e a sua ressurreição.

"Como Cristo pôde dizer para os perseguidos por causa de seu nome exultarem e se alegrarem? Quem pode exultar em meio a graves sofrimentos? Como explicar a alegria dos mártires? Ora, não somos robôs!"

Mas a resposta é: temos a "viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo, dentre os mortos."

Cristo morreu e depois de três dias ressuscitou, do que temos o vivo testemunho em nosso interior. E pela sua ressurreição temos a vida eterna.

Cristo foi o primeiro a ressuscitar, Ele é o Primogênito dentre os mortos. Várias pessoas foram trazidas novamente à vida por toda a Bíblia, mas nada comparável à ressurreição de Cristo. Podemos, logo, afirmar: Ele é o Primogênito. E, se a ressurreição parece loucura, saiba que "[...] a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens." [1Cor 1:25] Seja isso bem entendido.

Desfrutamos dos benefícios da viva esperança desde já aqui na terra.

O livramento do Egito dado por Deus a Israel e toda a perseguição sofrida no deserto são um poderoso símbolo de nossa vida.

Os israelitas foram tirados do meio de um povo ímpio, nós cristãos verdadeiros fomos tirados do mundo, da nossa vã maneira de viver; eles foram perseguidos pelos egípcios, nós somos perseguidos pelos ímpios; Deus abriu o Mar Vermelho, milagres e livramentos ocorrem na vida de cada cristão; eles andaram 40 anos no deserto, esperando entrar na terra prometida, nós peregrinamos nesta terra aguardando os céus; os que no caminho foram incrédulos morreram no deserto não entrando em Canaã; os que não perseverarem e forem incrédulos também não entrarão nos céus, o repouso prometido.

Retenhamos, portando, a viva esperança, porque, se esperarmos Cristo somente nesta vida, somos os mais miseráveis dos homens.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Comentário de I Pedro 1:3

Por Rouver Júnior

TEXTO DE BASE


"Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo, dentre os mortos," [1Pe 1:3]


COMENTÁRIO

Pedro bendiz ao Senhor Deus, Pai de Jesus Cristo, porque Ele, olhando um dia para o estado de extrema miséria no qual se encontrava o ser humano, obra de suas mãos, concebeu um grande sentimento de dor em seu coração e, em uma nova oportunidade, gerou-nos outra vez, fazendo uma nova criatura. A velha criatura foi uma vez gerada, mas pelo pecado envelheceu sem a graça de Deus. A nova criatura, contudo, foi gerada mediante a ressurreição de Cristo, pela graça, para uma vida sem pecado, que aguarda esperançosamente a revelação de Jesus Cristo.

Não que o primeiro homem haja sido criado para a morte, mas, por escolher o mal, pecou. A nova criatura também foi criada para a vida. Qual é pois a diferença? A graça de Cristo, revelada e operada a partir de Cristo e, retroativamente, naqueles que creram em Deus, tendo por certos a vinda, o padecimento, a morte e a ressurreição do Messias.

O versículo 3 diz que Deus "nos gerou de novo". Uma pergunta a ser feita é: "Deus nos gerou porque nós quisemos ser gerados outra vez, agora para a salvação, ou por obra apenas e unicamente de Deus, como na primeira criação?" Como Deus, no princípio, a tudo criou pela sua própria vontade e para louvor de seu nome, assim criou a nova criatura pela sua vontade. A nova geração deu-se pela "grande misericórdia de Deus". É impossível o homem ter escolhido ser gerado novamente, porque, tornado cego pelo pecado, não via a sua situação e não buscava a Deus. Auto-gerar-se é ainda mais descabido, visto o fato do homem não poder criar nada, não tendo criado, logo, a si próprio na primeira criação. Gerar o homem novamente já estava em Deus desde a eternidade.

Mas nem todo o ser humano é nova criatura, porque o seu nascimento depende da fé na ressurreição de Jesus Cristo, a qual fé é dada mediante a graça de Deus. O indivíduo ouve a palavra de Cristo e o Espírito Santo lhe faz enxergar a verdade, tendo Deus escolhido os seus eleitos antes do princípio.

É muito interessante: na primeira criação, sendo o homem inocente, não conhecendo nem o bem e nem o mal, escolheu o mal em desobediência à ordem de Deus. O segredo não está no suposto fato do homem conhecer o bem e o mal, porque, como poderia, sendo puro e totalmente bom, sem mancha e inclinado para as coisas de Deus, ter escolhido o mal? O homem não conhecia nem bem, nem mal [Gn 2:16-17, 25; Gn 3:22], mas pela sua escolha preferiu, sem conhecer, o mal. A questão está na desobediência à palavra de Deus, não no conhecimento anterior do bem e do mal. Isso nos mostra o grande valor da obediência a Deus, mesmo quando não entendemos as coisas, mesmo quando a nossa razão encontra um limite.

Depois da queda a carne humana se inclinou para o pecado e o espírito do homem para a morte, de modo a ser impossível escolher o bem, porque tudo em si era mau e buscava o mal.

A Salvação, sendo somente pela fé em Cristo, logo ficou, portanto, inalcançável a todo o esforço humano. Fez-se necessária a graça de Deus: o homem só pode tomar alguma decisão benigna se a graça de Deus nele operar. O homem caído conhece o bem e o mal, pois comeu da árvore do discernimento do bem e do mal, mas, por causa da inclinação da carne, não conseguia, mesmo que tentasse, fazer o bem. A inclinação da carne humana para o pecado veio somente depois do pecado, porque Deus não criaria um homem que, pela natureza pecaminosa, se inclinasse mais para o pecado do que para Ele.

A respeito da salvação, portanto, primeiro é o agir de Deus, depois a escolha humana. Não nós mesmos, mas Cristo nos fez cristãos. Entretanto, eis a questão: "Depois da operação primeira da graça de Deus, pode o homem escolher prosseguir no caminho da verdade ou a própria 'graça' nos faz perseverar até a morte?" Ora, somente pela graça podemos ser fiéis a Deus e a Bíblia nos ensina a perseverar até a morte.


PREDESTINAÇÃO E LIVRE-ARBÍTRIO

Uma questão básica é: "Existe predestinação ou livre-arbítrio? Porque se nós escolhemos, é livre-arbítrio, se é só a graça e nada de nós, é predestinação." Qual dos dois é o certo?

A Bíblia nos responde: são os dois. Há tanto a predestinação quanto o livre-arbítrio. [Leia Rm 9:6-33; Ef 1:4-6; Sl 23:3; Jo 15:16; Deut 30:15-20; Sl 119:30; I Tm 2:3-4; Jo 3:16-17; I Jo 2:1-2; Jo 1:29, etc.]

Explícito é que Deus sabe de tudo, inclusive do futuro. Se Deus viu anteriormente algo que vai acontecer, é porque vai acontecer, se não, Deus estaria enganado, não sendo perfeito, errando e não sendo omnisciente. Mas Deus é perfeito, não erra e é omnisciente. Se a coisa vista não tem outra alternativa senão acontecer, então ela está predestinada, determinada, a acontecer. E Deus viu tudo desde a eternidade. Deus sabe de quem vai para o céu e de quem vai para o inferno, tanto quanto de tudo o que vai acontecer na eternidade, estas pessoas estão, logo, predestinadas, umas para o céu e outras para o inferno.

Por outro lado, é igualmente notório que Deus quer que todos se salvem. Ora, Deus criar uma pessoa, sabendo que ela vai para o inferno e querer que todos se salvem não é contraditório? Sim, mas uma contradição aparente, porque Deus é a verdade e n'Ele não há contradição. Uma informação faltante pode explicar claramente coisas com aparência de contradição, e cada cristão verdadeiro tem em si o testemunho de que a Bíblia é a verdade., de que Cristo é a verdade absoluta. Parece-me, quando Deus mostra a sua soberania e o seu amor para com os homens, da maneira como está, Ele expõe com clareza perante nossos olhos que Ele é Deus, nós somos limitados, Ele é quem sabe de tudo, a nossa razão tem limites. Deus revela o que quer a quem quer e não nos revelou, porque não quis, a informação resolvedora destas coisas, de modo que a nossa postura deve ser a de humildade perante ao fato de não podermos conciliar racionalmente duas coisas verdadeiras: a predestinação e o livre-arbítrio. Devemos aceitar. Adão e Eva não conheciam o bem e o mal, desobedeceram a Deus e caíram; nós não enxergamos além desse limite. Não aceitar a doutrina bíblica seria semelhante a cair no erro de Adão e Eva. Temos que admitir, quanto a continuidade desta questão, "não sabemos".

Ora, temendo ter fugido do assunto central do comentário, há outras coisas que temos de aceitar simplesmente, porque são verdadeiras, cujo entendimento racional, pela nossa quantidade de razão, é impossível. Veja:

  1. A Trindade: Yaweh é Deus, Jesus é Deus, o Espírito Santo é Deus. São três pessoas diferentes, mas todas perfeitas. São três pessoas, mas não é politeísmo. São três pessoas, são um Deus só, o Deus único e verdadeiro.
  2. Deus sempre é: nunca foi criado, não tem princípio nem fim, contudo não é a força abstrata na qual alguns crêem. É um Deus que age e interfere na vida na terra.
  3. Na eternidade há ação, mas não há tempo.
Por conclusão, digo a todos vocês, leitores, sejamos sempre humildes tanto perante ao que conhecemos de Deus quanto ao que não conhecemos. Se Deus é infinito e imensurável, como o é, nunca conheceremos 1% de toda a sua plenitude, mas podemos conhecer o bastante para gastar toda a eternidade estudando. Logo, não vamos concluir precipitadamente sobre qualquer assunto, principalmente acerca dos quais nada, por ora, ou para sempre, podemos saber. Há três tipos de coisas: as que neste mundo podemos conhecer; as que só saberemos no céu e as que nunca poderemos saber, porque só Deus sabe tudo.

Jesus é a verdade absoluta


PS: Na postagem anterior, no último parágrafo, excetuando o "PS", eu coloquei a expressão "nos gerou de novo", não me dando conta de que ela não estava no prefácio, mas no versículo 3. Entretanto o novo nascimento está sim presente no prefácio, quando se fala da "Eleição", da "santificação", da "obediência" e da "aspersão"

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Comentário de I Pedro 1:1-2 [Prefácio e saudação]

Por Rouver Júnior


INTRODUÇÃO


Numerosas foram as dificuldades quanto ao exato entendimento do trecho a ser comentado, por isso buscarei ater-me em alto grau ao texto, sem fazer associações incertas com outros trechos bíblicos; toda a ligação feita só se dará se for segura e firme. Essas coisas para evitar erros interpretativos e conclusões precipitadas, prejudicadores da boa exposição.

Desejo que o Espírito Santo me guie em todas as palavras.


TEXTO DE BASE


"1 PEDRO, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia;
2 Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: graça, e paz vos seja multiplicada." [1Pe 1:1-2] ARC


COMENTÁRIO

Pedro escreve, na condição de um enviado de Deus para testemunho da morte e ressurreição de Cristo, a cristãos que, reunidos em certo lugar, e movidos por uma força contrária às suas vontades, foram espalhados por cinco províncias romanas: Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia. Eles são chamados de "estrangeiros", o que subentenderia nacionalidade diferente da de Pedro. Contudo, não é possível afirmar, por ora, para mim, pelo menos, categoricamente que assim é, porque a expressão não deixa claro quem é a referência, isto é, são "estrangeiros" porque são de nacionalidades diferentes da de Pedro ou porque são estrangeiros, agora, nas províncias em que estão? Ou mais: são "estrangeiros" porque a sua pátria não é o mundo?

É certo que nós, cristãos, não somos deste mundo; realmente ele não é a nossa pátria, mas para mim não está indubitável o significado deste "estrangeiros".

Com certeza são cristãos, sejam judeus convertidos ou gentios rendidos a Cristo, ou ainda ambos, porque foram "Eleitos" por Deus Pai e agora são povo de Deus. [1:2; 2:10]

São cristãos que saíram do lugar onde estavam reunidos por efeito de uma força contrária. No texto isolado, porém, não se percebe de qual força se trata, mas é bem possível que tenha sido as perseguições relatadas no livro de Atos dos Apóstolos, tendo em vista o tema central da Epístola: sofrimento por perseguição seguido de vitória. Se assim for, o sentido de "peregrinos e forasteiros" [2:11] é altamente reforçado, pois saíram de Israel fugidos de perseguições para caírem nos braços de ainda outras perseguições nas províncias romanas. Nero perseguia avidamente os cristãos de sua época. [vide postagem anterior]

A mensagem passada a nós por este primeiro versículo é: não somos deste mundo, não somos compreendidos, somos perseguidos, estrangeiros vivendo de perseguição em perseguição, sofrendo por amor a Cristo. [Mt 5:10-12]

Esses sentidos são completamente atuais em todo o mundo, mas em primeiro plano nos países onde há cristãos proibidos de proclamarem sua fé publicamente, como no Chade e na Coréia do Norte. A ordem nesta última nação é "Adorem aos dois reis", configurando o culto a personalidade; a lei é a sharia, havendo pena de morte para quem se proclama cristão. Hoje, em todo o mundo, os cristãos são fortemente perseguidos e outros dão as suas vidas por causa do zelo do nome de Cristo. Se no Brasil somos menos perseguidos, graças a Deus, mas, mesmo aqui, ainda sofremos perseguição.

Apesar das provações, não devemos nos entristecer, como Pedro mostra aos destinatários da Carta ao trazer uma palavra de extremo consolo e segurança: "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai".

Ora, as nossas escolhas são passíveis de erro e retrocesso, mas Deus escolhe sem ameaça de falha alguma e nunca volta atrás, porque os seus pensamentos e decisões são perfeitos. Assim, Deus, sabendo anteriormente de todas as coisas, elegeu com segurança a cada um cristão para o qual o apóstolo escreve. Não importam as perseguições, estamos guardados no poder de Deus para recebermos o cumprimento de nossa esperança: a salvação. [1:5]

Outro tanto, quem nos santifica é o Espírito Santo, para que possamos obedecer a Deus e receber a total purificação pelo sangue de Jesus Cristo sobre nós. É interessante notar a nítida presença da Trindade no segundo versículo: "Eleitos [...] Deus Pai, em [...] Espírito, [...] aspersão [...] Jesus Cristo".

Seguindo uma seqüência: Deus Pai, desde a eternidade, elege, o Espírito Santo, no homem já criado, opera a santificação, para a obediência a Deus e a purificação pela aspersão do sangue de Jesus Cristo. Desta maneira, somente o ato da eleição é atemporal, porque, embora Deus já soubesse da execução dos atos da santificação e da purificação, eles só foram executados dentro do tempo, visto o fato da impossibilidade da purificação e da santificação de um homem em carne ainda incriado. A eleição, por sua vez, houve desde sempre. Mas é claro que apenas exponho estes sentidos; a santificação e a purificação não são menos preciosas do que a eleição.

A saudação, por fim, se harmoniza plenamente com as palavras deste prefácio. Somente através da "graça" operante de Deus em nossa vida podemos obedecer a Deus e ter a paz com Ele. E é pela "graça" de Deus que recebemos a revelação e a santificação do Espírito Santo e podemos ser aspergidos para a purificação; e em tempos de ardentes provas, só podemos seguir em paz e nos alegrarmos pela "graça" de Deus. Deus, então, nos elegeu, não pelos nossos méritos, porque não temos nenhum, mas pela sua maravilhosa e abundante "graça".

O prefácio é perfeito: introduz, muito concisamente, os assuntos da Carta: perseguição, sofrimento, eleição, presciência, obediência, graça, vitória, Cristo, paz, santificação, purificação, novo nascimento ("nos gerou de novo"), etc.

PS: tenho a consciência de que este pequeno prefácio [em quantidade de letras e espaços] de 1Pe pode ser muito mais explorado, como na questão do apostolado e da vida e nome de Pedro, por exemplo.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Comentário de I Pedro

Por Rouver Júnior

INTRODUÇÃO

Gostaria mesmo de executar a exposição de toda a primeira Epístola do apóstolo Pedro, mas cada versículo, cada pequeno trecho da palavra de Deus, é tão rico em significação e oferece, por conseqüência, um campo tão vasto para se trazer perante os olhos que não tenho certeza se irei além do "Prefácio e saudação". É claro, espero chegar ao "Amém" de I Pedro 5:14, contudo, tal só será possível se Deus me conceder assim. Aliás, qualquer exposição é pela graça de Deus.

Que o Senhor me abençoe nesta empresa expositiva e que muitas pessoas recebam em si o entendimento do Verbo vivo, cujo conhecimento se realiza somente mediante à revelação do querido, amado e soberano Espírito Santo de Deus.


PRÉVIA DO COMENTÁRIO


O apóstolo Pedro escreveu, possivelmente por mãos de Silvano [5:12], a sua primeira epístola em Roma, a qual não se encontra expressamente dita, mas mencionada pelo uso do termo "Babilônia" em IPe 5:13. Este pensamento baseia-se em pelo menos duas idéias: é improvável que Silvano e Marcos, companheiros de Paulo, estivessem agora com Pedro na propriamente dita Babilônia. Mais aceitável é, se Paulo em Roma com seus companheiros, que Pedro lá também estivesse, porque certamente Pedro teve contato com Silvano e Marcos antes do envio da Epístola [5:12,13]. Paulo mesmo, já em Roma, escreve a Timóteo: "Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério." Paulo afirma: "Só Lucas está comigo", mas isso não garante que, posteriormente, Silvano não se dirigiu também à Roma.

Outro tanto, em Apocalipse vemos referências à Roma com o uso do termo "Babilônia" [Ap 14:8 e 17:5, etc.]. Sobre isso O Novo Dicionário da Bíblia [NDB] diz: "Há base para que se acredite que Pedro realmente esteve trabalhando em Roma, e assim a presença de Marcos e Silvano também poderia ser explicada." Entretanto, pelo que tenho visto, até agora fica tudo no acredita-se e não se estabelece categoricamente a localidade da escrita, o que, talvez, tenha pouca importância, porque a ligação com Roma dá-se também pelo fato de a Epístola ter sido enviada a províncias pertencentes ao Império Romano. E qual a importância da ligação com o Império? O conteúdo epistolar e o contexto histórico-religioso explicam.

Quanto ao conteúdo da Carta, o seu tema central é o sofrimento gerado pela perseguição e a posterior glória que se havia de seguir. O sofrimento é uma prova, Cristo sofreu por nós e seguiu-se a sua glória; assim, se sofrermos sendo culpados, somos miseráveis, mas se sendo justos, vitoriosos; logo, devemos andar em retidão.

Quanto ao contexto histórico-religioso, cuja ligação ao conteúdo de I Pedro é existente, a época da escrita é aproximadamente 63 d.C. Então, Roma estava em plena ascensão imperial e promíscua. Calígula, por exemplo, era promotor de orgias e chegou ao absurdo de nomear seu cavalo Incitatus cônsul romano. Cláudio, outro imperador romano, foi envenenado pela esposa e Nero, seu sucessor, iniciou uma impiedosa perseguição aos cristãos, tendo colocado fogo em Roma para acusar os servos de Deus de criminosos, sendo um terrível tirano em seu governo e chegando a ordenar a morte de sua mãe, de seus irmãos e de sua esposa. O ambicioso e orgulhoso imperador Vespasiano iniciou a construção do Coliseu, monumento arquitetônico no qual morreu, por amor a Cristo, um elevadíssimo número de cristãos. Em 80 d.C. a edificação foi completada e dedicada a Tito, embora o perfeito acabamento do anfiteatro não houvesse acontecido antes do governo de Domiciano. No Coliseu as portas do inferno se levantaram contra a igreja de Deus, mas não prevaleceram, do que temos uma declaração interessante:

"O sangue dos mártires é a semente dos cristãos." [Tertuliano]

Importante é destacar o governo de Nero (54 d.C - 68 d.C.), porque indiretamente está ligado tanto à I Pedro, quanto à Aos Romanos e também a Atos dos apóstolos. Quando Paulo estava perante Festo, deputado romano, que externou vacilação no caso presente, o apóstolo de Cristo apelou para César, isto é, Nero [At 25:10,11]. Quando Paulo em Aos Romanos 13:1-7 exorta o povo de Deus à obediência às autoridades, quem era a autoridade suprema de Roma era o estranho e impiedoso Nero. Ainda, quando Pedro escreve sua Epístola (possivelmente 63 d.C.), endereçada a províncias romanas, exortando também à obediência às autoridades e falando do sofrimento por causa de Cristo, era o mesmo Nero quem estava no trono romano.

Pedro diz: "Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse;" [4:12] e em 64 d.C. muito "da cidade de Roma foi destruída por incêndios."[NDB] Muitos cristãos foram torturados e queimados vivos, sob a forçada acusação de Nero. Tácito deixa claro que as acusações contra os cristãos não passavam de invencionice.

Nero torturou e queimou cristãos, a arena do Coliseu foi lavada pelo sangue dos mártires, cristãos que não negaram a sua fé e seu amor por Jesus Cristo, e Roma era um antro de pecado: idolatria, prostituição, adultério, homossexualismo, homicídio, narcisismo, etc. Os cidadãos romanos exultavam de perversidade, frenéticos, ao verem um leão despedaçar um homem ao meio. Assim, não é descabido que se chame Roma de Babilônia e se lhe aplique as palavras:

"E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundícia da sua prostituição; E na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande Babilônia, a mãe das prostituições e abominações da terra. E vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos, e do sangue das testemunhas de Jesus. E, vendo-a eu, maravilhei-me com grande admiração." [Ap 17:4-6]

E no céu se escutou: "Até quando, ó verdadeiro e santo Dominador, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?" [Ap 6:10] Contudo, os que deram seu sangue por amor a Cristo e que clamavam no céu com grande voz não eram todos. Assim, continua o versículo 11: "E foram dadas a cada um compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que também se completasse o número de seus conservos e seus irmãos, que haviam de ser mortos como eles foram." Ora, ainda hoje há gente vertendo seu sangue por terra em declaração de amor a Jesus Cristo. Você daria as suas mãos por amor a Cristo?

É óbvio que falaria eu com mais propriedade acerca destas passagens do Apocalipse se um estudo fizesse das tais. O comentário, contudo, é de I Pedro.

Então, quando falarmos do sofrimento expresso na primeira Epístola de Pedro, tenhamos em mente os contextos das palavras, tendo a plena consciência, é claro, de que servem para os dias atuais, porque a palavra de Deus subsiste eternamente. Amém.


CORRESPONDÊNCIAS

É muito interessante perceber a correspondência existente entre a Epístola, os discursos de Pedro em Atos dos apóstolos, o Evangelho de Marcos e as palavras do Senhor Jesus Cristo, além da ligação com o capítulo 53 de Isaías, mostrando Cristo como o Servo sofredor.

[Mc 10:45 e 1Pe 1:18] [At 2:16 e segs., 3:18 e 1Pe 1:10 e segs.,20] [At 2:23 e 1Pe 1:21] [At 2:32 e segs. e 1Pe 1:21] [ At 2:38,40 e 1Pe 3:20 e segs.] [At 10:42 e 1Pe 4:5] [etc.]
[1Pe 1:16 e Mt5:48] [1Pe 1:17 e Mt 22:16] [1Pe 1:18 e Mc 10:45] [etc.]


CONSULTADOS


Bíblia Sagrada, ARC na grafia simplificada, com referências e algumas variantes. 6ª edição: Geográfica editora, Santo André - SP - Brasil. 2005

La Sainte Bible. Nouvelle edition d'après la traduction de Louis Segond. Trinitarian Bible Society, Tyndale House, Dorset Road, London, England.

O novo dicionário da Bíblia, vols. I e II. Edições Vida Nova.

MCNAIR, S.E. A Bíblia explicada, 4ª edição. Rio de Janeiro: CPAD, 1983

VINCENTINO, Cláudio; DORIGO, Gianpaolo. História para ensino médio: história geral e do Brasil: volume único. São Paulo: Scipione, 2001 - Série Parâmetros

O'REILLY, A. J. Os mártires do Coliseu: o sofrimento dos Cristãos no Grande Anfiteatro Romano. Trad. Marta Doreto de Andrade. 4ª edição, CPAD, RJ: Rio de janeiro. 2005

FINNEY, Charles. Teologia sistemática. Trad. Lucy Iamakami, Luís Aron de Macedo e Degmar Ribas Júnior. 3ª edição, CPAD, RJ, Rio de Janeiro. 2004

LIMA, Darlan; ARCANJO, Alexandre; NASCIMENTO, Orlando. Teologia sistemática - apostila

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Fechamento - Comentários [Rm 12:1-2]

Abreviadamente, há cinco exigências feitas por Deus que servem como critérios para a realização de sua excelente vontade na vida do cristão:

1 - Rejeitando toda a impiedade do mundo, cultuar a Deus na totalidade do ser, com todo o corpo incontaminado pela concupiscência terrena; não apenas de lábios ou gestos, não por legalismos e rituais vãos, mas em inteireza, com todo o corpo e alma purificados pelo sangue de Cristo;

2 - Não nos conformar com o mundo ou século presente, porque o mundo e a eternidade que nos esperam são infinitamente superiores;

3 - Transformar-nos continuamente pela renovação de nosso entendimento, efetuada mediante o contínuo contato com Deus, através da oração, jejum, leitura da palavra, execução da obra de Deus, que compreende a adoração a Deus e a pregação do evangelho.

4 - Ter sempre o entendimento renovado.

Assim, experimenta-se a excelentíssima vontade de Deus, que nos renova dia a dia e nos faz viver em novidade de vida, provando maravilhas, milagres, sinais e prodígios; nunca apáticos, nunca indolentes, nunca sem graça. Assim, a esperança necessária do cumprimento da promessa de salvação em nós nos céus permanece, por Jesus Cristo, inabalável.

Por finalização, Deus assim exige, não por tirania, nem arbitrariamente, mas por sua compaixão para conosco, querendo livrar-nos de todo o mal e manter-nos debaixo de sua maravilhosa graça.


obs: as afirmações aqui feitas partem do pressuposto de que se está falando para servos de Deus, caso o leitor ainda não conheça verdadeiramente a Cristo e nunca O tenha aceitado, ou ainda esteja distanciado d'Ele, necessário se faz a aceitação de Jesus Cristo.

domingo, 7 de setembro de 2008

Comentário de Romanos 12:2

Por Rouver Júnior

INTRODUÇÃO

Em continuação à última postagem, farei a exposição de Rm 12:2. Por correção de um engano, no comentário anterior eu disse: "Pretendo [...] expor o segundo versículo e ainda em outra expor o terceiro, e fazer em uma quarta postagem um fechamento sobre os três versículos", mas eu me enganei. Comentarei o segundo versículo e farei o fechamento, sem o comentário do terceiro, se assim Deus permitir.

BREVE RECAPITULAÇÃO

Paulo, pela compaixão de Deus para com os cristãos em Roma, exorta-os a apresentarem seus corpos, não como os pagãos a Baco, mas em sacrifício a Deus; sacrifício vivo, isto é, não sob pecado, santo, totalmente separado e incontaminado pela iniquidade, e agradável a Deus, pois Ele se agrada de coisas puras.

ESCLARECIMENTO

Apresentar o corpo a Deus como sacrifício não é, definitivamente, promover exibições corpóreas no santuário, mas louvar, orar, fazer a obra de Deus e agir sem pecado, porque quando praticamos tais coisas estamos, espiritualmente, adentrando o lugar santíssimo onde Deus está. Então nós nos apresentamos, sem mácula, como as ovelhas sem defeito.


EXPOSIÇÃO

TEXTO DE BASE

"E não vos conformei com este mundo, mas transformais-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, perfeita vontade de Deus." [Rm 12:2]

COMENTÁRIO

"E não vos conformeis com este mundo" - Nesta primeira sentença a atenção recai principalmente sobre dois termos: "conformeis" e "mundo".

Conformar-se é a ação de, sentindo-se já confortável e acostumado com a situação presente, não desejar uma melhoria, não obstante a consciência da existência de algo melhor. O conformismo é marcado pela apatia e, em consequência, pela falta de atitude perante o quadro vivido. Paulo, exortando os cristão em Roma, exorta-nos a não nos conformarmos com este mundo, isto é, não nos acomodarmos a ele, apaticamente, desistindo e esquecendo do mundo vindouro, cujo aspecto e situação são infinitamente melhores do que os desta terra. Clara está, portanto, a necessidade de sermos sempre inconformados e desacomodados a este mundo. Aquele que se acomoda perde a perspectiva de um futuro melhor, esquece-se, logo, da salvação, desprezando o sacrifício propiciador de Cristo na cruz por nós, rejeitando a sua ressurreição e todo o plano divino para a redenção do homem. É fato, assim, que no céu de glória, preparado por Deus para nós, entrarão somente cristãos inconformados, desacomodados a este mundo.

O outro termo é "mundo", que tem uma vasta abrangência, pois diz respeito tanto ao mundo natural quanto ao mundo de pecado.

No mundo natural, criado por Deus, há maravilhas extraordinárias, as quais exercem um profundo encanto sobre olhos do observador. Mas o cuidado está em não se deixar acomodar a tais belezas. O mar, as montanhas, as vistas aéreas, um mergulho, a natureza do fundo do mar, as flores, o entardecer, o canto dos pássaros, uma escalada, um salto de pára-quedas, um voo, etc. Todas essas coisas são de uma elevada beleza, mas não podemos nos acomodar, porque, se o mar é belo, no céu há mar de cristal, se a luz do sol é aprazível, a luz de Deus é muito mais, se o canto dos pássaros alegram, o canto dos santos no céu, louvando a Deus, será muito mais belo e comovente, fará exultar na presença do Senhor, de maneira que este belo mundo natural no qual vivemos não é sombra do vindouro, não se pode tê-los por iguais.

Há também o mundo de pecado, no qual se praticam toda a sorte de promiscuidade, iniquidade, transgressão, perversidade, das quais coisas devem os cristãos viver distantes.

O crente acomodado ao mundo de pecado aceita facilmente as coisas contrárias à palavra de Deus como se fossem de boa aceitação. No céu não entra pecado. Nem adúlteros, nem homicidas, nem mentirosos, nem fornicários, nem homossexuais, nem os devassos, nem os que se prostituem, nem os soberbos, nem os orgulhosos, nem ainda todos os praticantes de coisas tais como estas entrarão no reino dos céus. Indiferente, o acomodado, tendo já perdido a esperança, aceita sem grande resistência o infiltrar-se da perversidade no seio da igreja. O conformado acostuma-se às práticas mundanas e começa a aceitá-las como normais, dizendo: "que importa? Se os homossexuais vivem bem...", e mais: "que há de estranho que os poderosos roubem todo o nosso dinheiro, adquirido com o nosso suor? Eu mesmo, se pudesse, faria o mesmo; o ser humano é mau mesmo" e várias outras afirmações que o próprio leitor pode deduzir.

Como Roma estava crescendo e consigo avultava-se a iniquidade, urgia aos cristãos de lá o não acomodarem-se a tais coisas, tanto quanto à natureza desta terra, que poderia ser vista na própria Roma, como nos territórios conquistados pelo império. Todos os novos conhecimentos, novos povos, novas culturas, poderiam saltar aos olhos, mas "não vos conformeis".

"mas transformais-vos pela renovação do vosso entendimento" - No mundo espiritual, ao qual refere-se Paulo agora, há tipos de transformação: o novo nascimento e o aperfeiçoamento. Como Paulo falava a cristãos, vê-se claramente que o "transformai-vos" refere-se ao aperfeiçoamento. Portanto, não se conformando a este mundo, pois há um infinitamente superior que nos espera, os cristãos em Roma deviam aperfeiçoar-se. E como? Pela renovação do entendimento.

Renovar é tornar outra vez novo e entendimento é a faculdade da alma de perceber as coisas como são e também o conjunto de coisas aprendidas que uma pessoa tem.

Renovar o entendimento é tornar outra vez nova a capacidade de perceber e sentir as coisas intelectuais.

Quando o cristão aprende algo da palavra de Deus, percebe uma coisa nova, a qual sente ardentemente no coração; mas, se não houver o constante renovo, alcançado pela oração, jejum, leitura da palavra de Deus, etc., o entendimento, isto é, a percepção das coisas formadoras do que foi aprendido vai envelhecendo-se, não conseguindo nem enxergar nem mais sentir corretamente o que outrora fez saltar aos olhos e bater forte o coração.

Ter o entendimento envelhecido acerca da palavra de Deus é conhecer o que a letra diz, mas não conseguir nem perceber a sua profundidade e sua importância, nem sentir o entusiasmo e a alegria de ouvir e conhecer a palavra de Deus. Crentes velhos sufocam o entusiasmo, mas crentes novos, ainda que tenham 150 anos, transmitem ânimo e júbilo pelo conhecimento de Deus, enxergando com nitidez a palavra.

Apresentar um culto racional a Deus, não se conformar com este mundo, transformar-se, aperfeiçoando-se, pela renovação do entendimento e ter o entendimento sempre novo são as condições para que o cristão experimente, prove, passe a ter em sua vida, a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Diz-se "boa, agradável, perfeita vontade de Deus", não porque Deus tenha vontade má, desagradável e imperfeita, mas para evidenciar que os cristãos dedicados provarão maravilhas em sua vida, enquanto o ímpio receberá em si mesmo coisas más, desagradáveis e imperfeitas, não da parte de Deus, mas da parte do pecado que o próprio ímpio pratica.

CONCLUSÃO

O cristão que cumpre as condições estabelecidas e explicitadas em Rm 12:1-2 tem a vontade maravilhosa de Deus cumprindo-se em sua vida e vive sempre e em todo o momento em novidade de vida. Cristão assim não tem vida chata, apática ou afundada na mesmice, mas exulta em ter a abençoada perspectiva de futuro aqui na terra e sente um gozo imenso na alma em consequência da ciência do mundo que o aguarda, o qual são os céus.


LIVROS E SITES CONSULTADOS

Bíblia Sagrada, ARC na grafia simplificada, com referências e algumas variantes. 6ª edição: Geográfica editora, Santo André - SP - Brasil. 2005

La Sainte Bible. Nouvelle edition d'après la traduction de Louis Segond. Trinitarian Bible Society, Tyndale House, Dorset Road, London, England.

O novo dicionário da Bíblia, vol.II. Edições Vida Nova.

McNair, S.E. A Bíblia explicada, 4ª edição. Rio de Janeiro: CPAD, 1983

www. bibliacatolica.com.br

www.biblegateway.com

www.bibliaonline.com.br



NOTA
* interessante notar a oposição entre estes dois termos utilizados, flexionadamente, no texto de Rm 12:2: "conformar" e "transformar". Ambos remetem à idéia de forma, sendo o primeiro significante da adequação da forma de algo a um modelo e o segundo da mudança de forma. Quanto a "não vos conformeis", o crente não pode adequar a sua forma de pensamento, de ação, de vida, de ser, ao mundo. Quanto a "mas transformai-vos", o crente deve mudar a sua formar de ver, pensar, agir, ser, em um aperfeiçoamento, mudando-se pelo conhecimento de Deus. Assim posto, o crente deve mudar constantemente a sua forma, mas não para adequar-se a este mundo, e sim para melhorar-se, subindo de degrau em degrau até a estatura de varão perfeito. Logo, a vida do crente é dinâmica e deve sempre progredir rumo a um estado mais próximo à perfeição. Deve haver movimento, nunca estagnação.

sábado, 30 de agosto de 2008

Comentário de Romanos 12:1

Por Rouver Júnior

INTRODUÇÃO

Conhecer de contínuo a palavra de Deus é obrigação de todo discípulo de Cristo, além de ser uma atividade dinâmica imensuravelmente prazerosa e produtiva, de modo que todas as pessoas deveriam procurar conhecer e prosseguir no conhecimento do Senhor. A maior parte dos homens está presa em cadeias de pecado, caminhando a passos largos para o inferno, confusa, simplesmente por não conhecer a Deus. "[...] Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus" [Mat 22:29]. Deste modo, um meio de suma eficácia para o conhecimento do Senhor é a exposição de sua palavra. É isso, portanto, que farei neste artigo e em posteriores, segundo a graça de Deus.

Pensava, a princípio, em expor os versículos 1 e 2 do capítulo 12 da Epístola Aos Romanos, mas como a palavra de Deus é riquíssima em significação limitei-me a comentar apenas o primeiro. Pretendo, em postagens posteriores, expor o segundo versículo e ainda em outra expor o terceiro, e fazer em uma quarta postagem um fechamento sobre os três versículos. Estas coisas serão feitas se Deus me conceder assim.


EXPOSIÇÃO

TEXTO DE BASE

"Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." [Rm 12:1]


BREVE COMENTÁRIO

Paulo pede com instância aos cristãos residentes em Roma, tendo no peito um sentimento de pesar, que eles não façam como os demais romanos faziam, pois que estes se entregavam a muitos tipos de perversidades e imundícias; mas deviam os cristãos em Roma apresentar um culto racional a Deus.


COMENTÁRIO

Rogar significa pedir com instância alguma coisa a alguém, querendo encarecidamente recebê-la. Rogar é mais que pedir. Rogar é uma súplica. O apóstolo de Cristo, assim, está pedindo com fervor de sentimento alguma coisa aos cristãos da igreja em Roma.[1] O que ele pede? E como pede? Ele roga aos cristãos em Roma "pela compaixão de Deus". A compaixão é um sentimento de pesar, sentido por alguém mediante a contemplação do sofrimento do outro. A compaixão é de Deus, o que significa que Deus estava olhando para a igreja em Roma com um sentimento pesaroso, porque via o mal da igreja ali situada. Não que ela estivesse em pecado, mas o contexto social no qual estava inserida era perverso.

A Epístola foi escrita entre 57 e 59 d.C.[2], em um período de crescimento do alto império romano. Conforme crescia o império, cresciam as riquezas e os opulentos romanos se entregavam de mais a mais à promiscuidade. Na cultura romana, havia instituído o culto ao deus grego Dionísio, transnominado para Baco, o deus do vinho. Orgias desenfreadas, embriaguez, prostituição, adultério, homossexualismo e outras práticas pecaminosas eram deliberadamente executadas nos cultos a Baco. Os romanos apresentavam seus corpos em sacrifício a esse deus pagão, se entregando completamente à carnalidade. Deus via o perigo que corria a igreja em Roma e teve compaixão, a compaixão de Deus estava enraizada no coração de Paulo, que também via o risco corrido. Pela compaixão de Deus, o servo do Senhor suplica amorosamente aos crentes que se abstivessem dessas práticas. O sacrifício dos romanos a Baco era morto porque estava debaixo do pecado, e o pecado opera a morte, assim, Paulo insta aos servos de Deus em Roma a apresentarem seus corpos em sacrifício vivo, isto é, que não está sob pecado, santo, totalmente separado da impiedade dos romanos e de todos os demais pecados, e agradável a Deus, porque Deus, sendo puro, se agrada de coisas puras. Fazendo assim, os cristãos em Roma estariam apresentando um culto racional ao Senhor Todo-Poderoso.

A razão é o aspecto mais óbvio de diferenciação entre um homem e um animal; não obstante, os participantes dos cultos a Baco, por causa da grande promiscuidade e da entrega total às paixões, assemelhavam-se mais a animais que a seres pensantes. Dominados pela carnalidade e pelo instinto, eram como seres irracionais, sendo todo o seu culto também irracional. Entretanto, os crentes são exortados a apresentarem um culto racional a Deus, configurado pela apresentação de seus corpos, livres da carnalidade e do pecado, "em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus".

O servo de Deus não pode cultuar a Deus em pecado, não pode estar misturado e contaminado com a prostituição, o adultério, o homossexualismo e todos os outros tipos de pecado. Deus é puro e quer ser adorado por adoradores puros. O pecado aborrece a Deus e todo aquele que se dispõe a adorar ao Senhor, mas permanece no pecado, desagrada-Lhe.

Interessante notar que o sacrifício do servo de Deus é vivo. A morte é filha do pecado, porque a morte entrou no mundo pelo pecado de um homem (Adão), de maneira que todos foram feitos pecadores e subjugados à morte por causa do erro desse homem. Mas a justiça de Deus se manifestou em Cristo Jesus, nosso Salvador, o qual trouxe ao mundo a ressurreição e a vida. Assim por um homem entrou no mundo o pecado e a morte, e por outro, por Cristo, a ressurreição e a vida, sendo este, na vida na terra, totalmente homem e totalmente Deus, e havendo hoje a possibilidade de todo o homem ser salvo, bastando somente a fé em Cristo, e o perseverar no caminho da verdade. [Rm 2:6-11; 3:21-26; 5:1-11 ; 8:1; Tg 2:14-26; Ef 2:8-10]

Um culto vivo só é possível se o adorador adora a Deus e está em Cristo, porque é Cristo quem opera em nós a vida. Cristo se ofereceu em sacrifício para salvação da humanidade. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Jesus teve de morrer porque levou sobre si os nossos pecados, e pecado produz morte, mas nós que vivemos em Cristo não precisamos mais morrer, porque "[...] o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados" [Is 53 5]. Hoje não temos pecados sobre nós. Digo isso de nós que fomos feitos filhos de Deus. Assim, nosso sacrifício deve ser vivo, sem morte. Não precisamos mais de morrer, Cristo morreu por nós. E nós que estávamos mortos no pecado, quando Cristo ressuscitou, fomos ressuscitados com Ele para a vida eterna. Tendo nos despojado do velho homem, porque ele já está morto, e nós, sendo novos e nascidos de novo, gerados de Deus, estamos vivos em Cristo. As coisas velhas passaram, eis que tudo se fez novo.

"Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo" [I Aos Coríntios 15:57]


CONCLUSÃO

Tendo a consciência da importância da pureza diante de Deus e sabendo que lhe é agradável um culto racional, escutemos sempre a súplica encarecida e amorosa de Paulo, que, inspirado por Deus, nos exorta a apresentarmos os nossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, sendo sempre separados e rejeitando toda a corrupção e imundícia deste mundo, para que não nos coloquemos novamente debaixo do pecado, tornando, assim, a operar em nós a morte. Vivamos debaixo da graça de Deus, manifestada por Cristo, e rejeitemos o pecado que está à nossa volta. Não tornemos a trás.


NOTAS

[1] Sabemos, neste versículo, que se trata de cristãos, porque Paulo chama-os de "irmãos". Ora, só se é irmão se se tem um pai e uma mãe em comum com outra pessoa. Espiritualmente, só são irmãos os que aceitaram a Jesus Cristo como único e suficiente Salvador, recebendo, deste modo, a remissão dos pecados pelo sangue de Cristo, o novo nascimento e a filiação de Deus. Paulo era filho de Deus e só poderia chamar outros de "irmãos" se eles também fossem filhos de Deus, porque aquele que não nasceu de novo é apenas criatura e não filho.
[2] Quanto a data de escrita da Epístola Aos Romanos, McNair diz: "Esta epístola foi escrita por Paulo para os cristãos em Roma no mês de fevereiro de 58 d.C., em Corinto, na casa de um abastado crente chamado Gaio (16.33)", enquanto O Novo Dicionário da Bíblia nos traz: "A Epístola, por conseguinte, pode ser datada com relativa exatidão, embora os problemas da cronologia (q.v.) do Novo Testamento em geral e da cronologia paulina em particular, (sic) proibam qualquer possibilidade de datar a Epístola de modo definitivo. Uma data entre 57 e 59 D.C. parece encaixar-se bem dentro dos informes conhecidos."
P.S. "Rogo-vos pois, irmãos [...]". É importante notar o "pois", porque é um termo de conclusão, ligando, desta maneira, o rogo do capítulo 12 ao que foi dito anteriormente na Epístola.


LIVROS UTILIZADOS

Vincentino
, Cláudio; Dorigo, Gianpaolo. História para ensino médio: história geral e do Brasil: volume único. São Paulo: Scipione, 2001 - Série Parâmetros

O novo dicionário da Bíblia, vol.II. Edições Vida Nova.

McNair
, S.E. A Bíblia explicada, 4ª edição. Rio de Janeiro: CPAD, 1983

Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa, 11ª edição. Direitos autorais reservados à Editora Civilização Brasileira S.A., Rio de Janeiro

Bíblia ARC na grafia simplificada, 1990. (a 71ª impressão traz uma acentuação, ou ausência de acentuação em certas palavras, que não foi seguida)

sábado, 19 de julho de 2008

As algemas do homem

Por Rouver Júnior

INTRODUÇÃO


Falarei neste artigo de três algemas que sempre prenderam o ser humano e que nos dias atuais continuam fazendo da humanidade um escravo. Enumero-as desde já: prostituição, adultério e mentira. É claro que o homem não se amarra apenas com três tipos de corda, mas o presente texto muito se estenderia caso outros assuntos fossem aqui incluídos. Não obstante, nem por isso o escrito ficou pequeno, e assim peço a paciência de todos, porque a leitura dele é de grande importância.

Tanto na atualidade quanto no passado, numerosas são as armadilhas que o homem faz para si. Muito bom será se o leitor entender o artigo e buscar sempre evitar aquilo que lhe faria mal. Para escapar dessas cadeias há solução e saída.

Por finalização desta introdução, peço humilde e encarecidamente aos que não crêem e repudiam os preceitos contidos na Bíblia que leiam com paciência todo o artigo e depois concluam se os argumentos procedem ou não, visto a grande utilidade, para todos, do que será dito a seguir.


TEXTO DE BASE

"Quanto ao ímpio, as suas iniqüidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido." [Provérbios 5:22]


PRÉ-ARGUMENTAÇÃO

Ímpio é todo o homem praticante de impiedade, logo, que faz o mal, querendo-o para os outros; é o homem mentiroso, assassino, enganador, ladrão, que se prostitui e que adultera, sem temor e consideração à vontade de Deus. Em uma frase, ímpio é o homem afastado de Deus.


A PROSTITUIÇÃO

Entenda-se por prostituição, não somente a prática exercida por prostitutas, mas, amplamente, qualquer relação sexual entre pessoas que não têm nem matrimônio entre si, nem com outra pessoa.

A relação sexual tida por pessoas sem matrimônio traz diversos riscos, cujas consequências são terríveis. Contrair doenças sexuais, filhos em momento errado e graves intrigas são alguns dos riscos.

Se a pessoa contrai alguma doença sexualmente transmissível, como a sífilis, a gonorréia e a AIDS, três tipos de cadeias podem prender-lhe: a degeneração do corpo, o tratamento da doença e a morte.

A doença degenerativa pode levar à morte ou não. Se não leva, como a sífilis quando não atinge estados mais lastimáveis, traz uma grande perturbação psicológica, porque o doente vê o seu corpo se deteriorando gradativamente e se tornando grotesco, e não pode fazer outra coisa senão aceitar e conviver com a enfermidade, e buscar tratá-la, é claro. A vergonha é inevitável. Ninguém gosta de ser reconhecido como sifilítico ou gonorrento e, além do mais, em caso do enfermo casar-se, ele sentirá, no íntimo, vergonha de mostrar-se ao seu cônjuge, devido à sua aparência desagradável.

No caso da doença degenerativa mortal, como a AIDS (não obstante o desenvolvimento da medicina), a pessoa tem de conviver com a certeza da morte*, com a vergonha de ser reconhecido como aidético e com as diversas enfermidades advindas do enfraquecimento causado no organismo pela AIDS, devido às quais coisas uma forte moléstia psicológica se manifesta. Quem gosta de ter AIDS?

O terceiro caso é o tratamento, que prende o indivíduo a uma rotina de remédios, sessões, consultas, muito desgastante. O simples fato de ver pessoas saudáveis, tanto quanto o de não poder ou ter vergonha de dividir o assunto com alguém, causa também amargura, angústia, tristeza e depressão, sendo necessário o acompanhamento psicológico ou psiquiátrico. Neste caso, a pessoa está presa tanto pelos sentimentos como pelas contínuas consultas exigidas. Como é bom não ter essa doença! - exclama o saudável. O que eu não daria pra não ter essa doença! - lamenta o enfermo.

Filhos em hora errada e a falta de apego sentimental, que mais cedo ou mais tarde se manifestará em sensação de vazio, são potentes prisões. O quanto a vida de um adolescente e, até mesmo, de um adulto muda e é interrompida em certos aspectos com a chegada de uma criança de nascimento não planejado, cujos pais não possuem estruturas nem financeiras nem psicológicas para cuidá-la?

A pessoa que vive se relacionando sexualmente com várias pessoas, seja no espaço de tempo que for, corre o risco de se desentender muito seriamente com algum(a) namorado(a) ou outro tipo de pessoa ligada de certa forma com o(a) parceiro(a), podendo, assim, ocorrer confusões sérias, brigas ou até mortes. Não será a primeira vez que acontece se uma pessoa matar outra por causa de uma paixão.

Notas:
1. Mesmo as pessoas que se relacionam somente com um(a) parceiro(a) não estão livres dos perigos citados acima. Com o pouco compromisso do namoro (ou do ficante), não é possível estabelecer confiança na fidelidade.
2. As pessoas dadas às paixões vivem com o uso da capacidade intelectual reduzido. Quando há paixões fortes no homem, ele tende a abandonar a razão e a buscar a saciedade de sua vontade. (amor é diferente de paixão).
3. O uso da camisinha não garante imunidade contra as DST's, porque ninguém a usa sistematicamente, e, se por algum acaso, alguém procura usá-la com rigor, nem por isso está protegido contra uma exceção. Não se deve confiar em sua rigorosidade.

O ADULTÉRIO

O adultério é toda a relação sexual extra-conjugal. Além de todas as coisas ditas a respeito da prostituição, que se aplicam ao adultério, há também a grave mentira ao cônjuge, o enganar os filhos e as intrigas com os cônjuges de outrem. Daí decorrem várias tragédias: 1- a família se desfaz; 2- os filhos, a pessoa traída e o adúltero levarão para o resto da vida graves e profundas cicatrizes em si; 3- e poderão ocorrer brigas, prisões (em presídios), profunda depressão e mortes. Quanto à mentira, tratar-se-á adiante.


A MENTIRA

A mentira é o ato de comunicar algo não verdadeiro a alguém com o intuito de enganar. A simples comunicação não intencional de algo falso não constitui mentira, mas uma falha. (assunto para desenvolvimento posterior)

O mentiroso se escraviza com a mentira, porque mentir implica um esforço contínuo para harmonizar a mentira contada antes com algum fato apresentado que a contradiz. O que mente tenta harmonizar a mentira anterior com o fato novo apresentando uma nova mentira, pois a verdade não harmoniza consigo a falsidade, e por isso ele não pode apresentar a verdade. Assim, o sujeito está em uma cadeia viciosa, uma vez que outro fato surgirá e uma nova justificação será exigida, a qual, dada, mediante outro fato, pedirá outra justificação, e assim por diante.

Essas coisas geram uma grande e progressiva tensão no indivíduo, pelo fato de que ele deverá estar constantemente ciente de todas as mentiras anteriormente contadas, e isso exige uma memória sobre-humana. O perigo da descoberta está sempre presente. O resultado da prática mentirosa é invariável: chegará sempre a hora em que a falsidade se revelará; em algum momento, o mentiroso esquecerá de uma mentira da qual o interlocutor está ciente e, mais cedo ou mais tarde, indubitavelmente, se contraditará.

Duas frases são aqui convenientes: "O mentiroso deve ter uma boa memória" e "A mentira tem perna curta". A primeira dita por Quintiliano e a segunda um conhecido ditado popular.

Desse modo, a mentira aprisiona o mentiroso e o resultado da contradição é descrédito, vergonha e exclusão social. O descrédito vem devido ao fato da impossibilidade de se confiar em um mentiroso. Quando ele estará falando a verdade e quando a mentira? A confiança no falador de mentira reconhecido zera, ou quase zera, dependendo da quantidade e da qualidade das mentiras. Mesmo quem conta uma mentira pequena e sozinha tem a sua confiabilidade abalada, sendo somente reestabelecida com a contínua sinceridade, totalmente incontaminada pelo engano.

A vergonha surge muito fortemente, porque o indivíduo foi desmascarado e ficou exposto; o seu baixo caráter ficou à amostra. Fica demonstrado que ele pouco se importa com o bem das outras pessoas, pois não se empenhou em fazê-las conhecer a verdade, mas dedicou-se em iludí-las. Ele caiu em contradição, faltou com a lógica e a memória, afirmou descaradamente um fato falso. Todos ficaram sabendo que, enquanto dizia algo na conversa com alguém, ele pensava outras coisas e arquitetava palavras e frases para enganar quem com ele falava.

A exclusão social acontece, porque ninguém quer ser enganado. Até em um grupo de mentirosos deve haver entre os componentes sinceridade. Se todos mentirem a todos, o grupo se desfaz; se só um mentir, é excluído, como acontece em outros grupos sociais. Em um grupo de bandidos, embora eles possam mentir e fazer o mal desenfreadamente para outras pessoas, entre eles, contudo, deve haver sinceridade e cumplicidade, porque, se não, a quadrilha se desmancha. Outro tanto, se um mentiroso descoberto permanece fisicamente no meio de um grupo de pessoas que se tratam com sinceridade, não é ouvido, só escuta, e não exerce caráter ativo, estando, assim, na verdade, ausente.

Vale notificar algumas coisas:
1- A verdade (a sinceridade) fixa-se facilmente no homem (é mais fácil de lembrar), visto lhe ser inerente, porque fala do que está em si, sendo por muitas vezes dita automaticamente. Já a mentira tem grande dificuldade de fixar-se na memória e deve ser meticulosamente mentalizada; decorada ou repetida várias vezes para criar-se o hábito. Esse hábito nunca virá no tempo certo, porque as mentiras são mais rápidas que a memória e a língua mais ligeira que a cabeça. O hábito nunca soará natural como os outros, visto que, embora passe ao quase automatismo, a consciência sempre dirá ao mentiroso que aquilo é mentira, e isso lhe dará artificialidade no agir.
2- O fato da maior facilidade do que é sincero fixar-se na memória relativamente ao enganoso advém da crença no que se fala. Quando acreditamos no que dizemos, lembramos melhor; quando não, é mais difícil, devida à artificialidade da fixação. Doutra maneira, quando acreditamos no que falamos, podemos dizer que o falamos porque o pensamento expresso está arraigado em nós; mas quando não cremos, criamos idéias que flutuam em nossa mente e em nossos sentimentos.


CARACTERÍSTICAS COMUNS (Algumas)

Em todos os assuntos citados acima, a prostituição, o adultério e a mentira, algumas características são comuns. Quem os comete quer sempre ocultar o fato, gerando em si contínua tensão, causadora de moléstia psicológica; tende a repetir tantas vezes mais o ato, podendo somar-lhe outros ainda, visto que rompeu, desde o primeiro momento, a barreira moral restringidora.


CONCLUSÃO

Muito se combate a moral cristã, sob a afirmação de ser ela demasiadamente repressora, devendo, portanto, o homem abandoná-la para libertar-se. Mas o que, na verdade, parece prisão é liberdade, e o que parece liberdade prisão.

É impossível viver sem regras morais sensatas; se não está escrito, está na mente, mesmo que um tanto distorcido. A moral que harmoniza a vida está na Bíblia e a distorção, ou até mesmo o abandono, que fazem dela é extremamente destrutivo ao homem.

Prega-se a primordialidade da mentira como de fato inerente ao homem, enquanto a verdade é arbitrária; afirma-se a moral como algo degradante e retrógrado, enquanto a sua destruição é a total libertação; mas a realidade é que os valores morais cristãos preservam o homem, sendo sua ausência ou transgressão profundamente perversa contra o próprio homem.

Quando Deus diz "Não adulterarás" e "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo", não é porque Ele quer privar pura e simplesmente o homem destas coisas, mas porque Ele sabe do resultado delas, sabe que, se o homem cometê-las, o homem é quem sofrerá, o homem é quem se dará mal.

A lei de Deus não faz do Senhor um árbitro ditador de regras inconseqüentes, mas revela o profundo cuidado e o inexprimível amor que Ele tem por nós. Mas nenhum ser humano simples é capaz de cumprir toda a lei. São muitos preceitos e, devido à queda, o homem não pode viver segundo a lei (de Moisés). Por isso, Jesus Cristo, sendo na terra plenamente Deus e plenamente homem, cumpriu toda a lei por nós, levando sobre si as nossas dores, tomando as nossas enfermidades sobre si, ferido pelas nossas transgressões, pelas quais coisas, e pela sua ressurreição, deu-nos a plena salvação, mediante a fé em seu nome e o buscar viver conforme a sua vontade. Todos os enfermos das doenças citadas acima e todos os cativos das prisões mencionadas podem alcançar a cura e a libertação por Jesus Cristo, nosso Senhor.


DECLARAÇÃO FINAL

No afã de libertar-se das amarras morais, o homem se encarcera nas masmorras do pecado, sem nem saber, ou conhecer, que a única maneira de ser o homem mais livre do mundo é estar o mais aprisionado possível em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Nota: Tratou-se da moral com vistas para os prejuízos físicos e psicológicos na argumentação acerca da prostituição, adultério e mentira, contudo, muito além das consequências psico-fisiológicas, há as espirituais.




*"Quem não convive com a certeza da morte?", pode-se perguntar, entretanto, a morte na velhice é preferível à morte tuberculosa na juventude, por exemplo. A medicina avançou, mas a qualidade de vida do aidético não se compara à do saudável, além do tempo de vida menor e das consequências psicológicas.

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